sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Recomeçar...

     Fim de ano. Viagens. Arrumação das gavetas, do guarda roupa... renovação.
     E planos! Quem nunca?
     Na arrumação da bolsa para a viagem, retirando muitos objetos e me perguntando porque os carrego e descobrindo, ao mesmo tempo, porque a bolsa andava pesando tanto, me deparo com um caderninho. Meu filho o chamaria de moleskine. Em tempos digitais, contraditoriamente, amamos moleskine. Ele e eu.
     Folheio-o e me deparo com o seguinte texto, escrito com a minha letra:
     Desafios 2017
     Compreender e vivenciar os sentidos implícitos nos conceitos de impermanência, desapego e temperança.
     Aceitar os ciclos da vida: as chegadas, as partidas.
     Compreender as aversões.
     E, no final, uma citação de Nise da Silveira, que registrei do filme sobre a sua história - Nise o coração da loucura: "Há dez mil modos de ocupar-se da vida e de pertencer à sua época".
     Lendo minhas fraquezas nos meus desejos de progresso pessoal, me vi apegada aos meus filhos, aos meus amados, ao longo de 2017, de 2018 e sempre - zero desapego; revivi as dores das partidas que presenciei ao longo dos anos - total incompetência para absorver e aceitar a impermanência, a finitude; reconheci minhas dificuldades com este outro que me fere, me machuca, que pensa e que age diferentemente de mim - dançou a desejada compreensão das aversões; quanto a aceitar os ciclos da vida?! Só rindo!
     Ah! O ser humano! Senhor!?
     E me lembrei de uma palestra assistida recentemente em que o ministrante nos propôs repensarmos nossa postura ao final de cada ano, questionando o fato de que, no dia primeiro de janeiro, enchemos os pulmões e afirmamos categoricamente:      Este ano será melhor! Este ano eu serei uma pessoa melhor!
     Questionava ele que essas mesmas pessoas são as que lá por meados de novembro, outras bem antes, dizem num sopro, arrastando-se, já sem energia nenhuma: Eu só quero que este ano acabe!
     E exemplificou observando a própria platéia, esvaziada, diferentemente dos primeiros meses do ano, em que fica lotada, e também com quem passa em frente às universidades, no início do ano, enfrentando um trânsito caótico. No final do ano, já se nota o esvaziamento.
     É isso. Vamos sucumbindo, abandonando os planos e as ações, ao longo do ano.
     E qual a mágica que faz com que, exaustos com os amigos secretos, as festas da firma, a perambulação pelas lojas na busca dos presentes, na virada do ano, nos sintamos renovados, cheios de uma nova energia? Então, não era cansaço físico!?
     Assim, defendia ele que a causa desse fenômeno é que humanizamos os processos naturais: a passagem do ano só significa que a terra concluiu mais um giro em torno do sol. Só isso!
     Faria sentido, então, eu fazer nova lista de projetos para o ano vindouro? Na qual, provavelmente, eu só acrescentaria novas metas, mesmo sem ter progredido minimamente nas anteriores?
     Depois de uma palestra dessa, não consigo. Teria vergonha.
     Resta -me compreender que as propostas para o novo ano são as mesmas de 2017, de 2018 e as dos anos passados.
São todas aquelas das quais eu não dei conta. Tudo o que ficou pelo caminho, que não foi concluído, que não foi nem tentado.
     Então, relembro as metas mais antigas que jazem em outras cadernetinhas: aprender a nadar, a andar de bicicleta, uma nova língua;
cuidar melhor da saúde: bingo! Essa eu cumpri.
     É. Este ano não haverá novas listas.
     Desejo a todos que, em 2019 continuem, prossigam, na luta e no embate pela superação, buscando sucesso em todos os projetos arquitetados em 2018, 2017, 2016, 2015, 2014, 2013,... cada qual descobrindo o melhor jeito, a forma mais feliz de "ocupar-se da vida e de pertencer à sua época".
     Feliz ano novo!