domingo, 16 de março de 2014

Descobertas

Minha netinha Letícia, que completa hoje um ano e dois meses de idade, está descobrindo o mundo.
E iniciou a descoberta com o seu próprio corpo.
Os braços, ela os direciona para a frente, na altura dos ombros e, com as mãos diante dos olhos, segura uma com a outra, bate palmas, movimenta-as em sentido circular com os dedos abertos e ri. Como se tivesse descoberto que a terra é redonda.
Há alguns dias, descobriu que os seus joelhinhos se flexionam. Então, de repente, a vemos dobrar os joelhos repetidas vezes, curtindo a leveza do corpinho que se abaixa e se levanta, num movimento de dança. E ri, como se tivesse descoberto a pólvora.
Agora, ela percebeu que pode ficar nas pontas dos pés. Assim, com algum apoio ou ousando o movimento sem qualquer base que a equilibre, ela se põe nas pontas dos pés. Várias vezes. E ri, como se tivesse descoberto a roda.
E eu, vendo-a nesses deslumbramentos, me encanto, mas também me pergunto:
__ Meu Deus, onde é que eu estava quando os meus filhos fizeram essas descobertas?
E sei a resposta:
__ Estava trabalhando feito maluca, dando aulas de manhã, à tarde e à noite, para garantir-lhes um mínimo de qualidade de vida.
Houve uma época em que – e eu tenho certeza disso – se abrissem uma escola que funcionasse da meia noite às seis da manhã, eu iria trabalhar lá.
E, é claro, nessas reflexões, há culpa, há um sentimento de perda enorme, uma saudade às avessas, um déjà-vu ao contrário: sinto uma saudade enorme daquilo que não tive.
Então, ludicamente, me permito viajar na imaginação. Volto ao passado e os vejo – os meus filhos Thiago, Larissa e Lucas –   descobrindo o mundo. E os vejo flexionando seus joelhinhos e rindo, magicamente.
Fecho os olhos e os vejo na ponta dos pés, sorrindo, encantados com as possibilidades todas que essa máquina maravilhosa chamada corpo lhe possibilita. E eles riem, belamente.
E me perdoo. Sei que as crianças que eles foram ainda há pouco os habitam e sonho com o desejo de que, lendo este texto, eles também se imaginem pequeninos e se vejam sendo olhados por mim e sintam a plenitude do meu amor.
Porque eles sabem, todos, que as minhas escolhas sempre foram norteadas pelo mais puro amor.
Santa Letícia!
O meu amor de avó me faz reencontrar o amor aos meus filhos. Assim, amando-a, cuidando dela, brincando com ela, extasiando-me com suas descobertas, volto a ter filhos pequeninos e revivo minha amorosidade de mãe.

Não é à toa que dizem que a avó é mãe duas vezes ou que é mãe com açúcar.