Minha
netinha Letícia, que completa hoje um ano e dois meses de idade, está
descobrindo o mundo.
E iniciou
a descoberta com o seu próprio corpo.
Os
braços, ela os direciona para a frente, na altura dos ombros e, com as mãos
diante dos olhos, segura uma com a outra, bate palmas, movimenta-as em sentido
circular com os dedos abertos e ri. Como se tivesse descoberto que a terra é
redonda.
Há
alguns dias, descobriu que os seus joelhinhos se flexionam. Então, de repente, a
vemos dobrar os joelhos repetidas vezes, curtindo a leveza do corpinho que se
abaixa e se levanta, num movimento de dança. E ri, como se tivesse descoberto a
pólvora.
Agora,
ela percebeu que pode ficar nas pontas dos pés. Assim, com algum apoio ou
ousando o movimento sem qualquer base que a equilibre, ela se põe nas pontas
dos pés. Várias vezes. E ri, como se tivesse descoberto a roda.
E eu,
vendo-a nesses deslumbramentos, me encanto, mas também me pergunto:
__
Meu Deus, onde é que eu estava quando os meus
filhos fizeram essas descobertas?
E
sei a resposta:
__
Estava trabalhando feito maluca, dando aulas de manhã, à tarde e à noite, para
garantir-lhes um mínimo de qualidade de vida.
Houve
uma época em que – e eu tenho certeza disso – se abrissem uma escola que
funcionasse da meia noite às seis da manhã, eu iria trabalhar lá.
E, é
claro, nessas reflexões, há culpa, há um sentimento de perda enorme, uma
saudade às avessas, um déjà-vu ao contrário: sinto uma saudade enorme daquilo
que não tive.
Então,
ludicamente, me permito viajar na imaginação. Volto ao passado e os vejo – os
meus filhos Thiago, Larissa e Lucas – descobrindo o mundo. E os vejo flexionando
seus joelhinhos e rindo, magicamente.
Fecho
os olhos e os vejo na ponta dos pés, sorrindo, encantados com as possibilidades
todas que essa máquina maravilhosa chamada corpo lhe possibilita. E eles riem,
belamente.
E me
perdoo. Sei que as crianças que eles foram ainda há pouco os habitam e sonho
com o desejo de que, lendo este texto, eles também se imaginem pequeninos e se
vejam sendo olhados por mim e sintam a plenitude do meu amor.
Porque
eles sabem, todos, que as minhas escolhas sempre foram norteadas pelo mais puro
amor.
Santa
Letícia!
O
meu amor de avó me faz reencontrar o amor aos meus filhos. Assim, amando-a,
cuidando dela, brincando com ela, extasiando-me com suas descobertas, volto a ter
filhos pequeninos e revivo minha amorosidade de mãe.
Não
é à toa que dizem que a avó é mãe duas vezes ou que é mãe com açúcar.
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