quarta-feira, 9 de abril de 2014

Os sons do silêncio

Minha filha, antenada com as tecnologias, como a maioria dos jovens, me alerta sempre:

__Mãe, blog tem que ter constância. De vez em quando você abandona seu blog! Você tem tantos textos já escritos, esperando serem publicados. Vai lá, pelo menos uma vez por semana, e posta um deles.

Ela está na rede o tempo inteiro. É Twitter, Faceboook, Whatsapp, Instagram, Skipe e o que mais vier. E eles têm sempre tanto a dizer, submetidos à urgência da vida que clama por ação, por movimento, por plenitude, enfim.

Mas não é assim sempre.  Pelo menos comigo não funciona assim. Não consigo me impor essa obrigação de dizer sempre.

Há, de fato, textos escritos e adormecidos.

Como escreveu o Menalton Braff, textos precisam de “gaveta”. Nós os escrevemos, os deixamos lá por um tempo e depois, voltamos a eles, muito mais leitores que escritores.

Esse distanciamento nos permite melhorá-los, burilá-los, e até mesmo descartá-los ou dar-lhes mais tempo de espera e de amadurecimento.

Às vezes, leio os textos já escritos à espera de publicação e penso que ainda não é chegado o seu tempo ou mesmo que o seu tempo já passou, pois não penso mais daquele modo. Teria que modificá-los, dar-lhes novas cores, colori-los com tons outros, mais ou menos sutis. E eles ficam lá, na gaveta.

Mas a principal razão do meu silenciamento é que, às vezes, ou quase sempre, as palavras não falam, não são o suficiente, não dão conta de expressar o momento vivido, o sentimento, a situação.

E aí, o silêncio fala mais.

É o tempo do recolhimento; de ruminar, refletir, calar e sentir, apenas.

É tempo de ouvir os sons do silêncio, na esperança de que novas palavras cheguem e se assentem, e se organizem, ou mesmo de que as velhas palavras ofereçam possibilidades outras de sentido – e elas sempre oferecem.

É tempo de aguardar que essas palavras possam me ajudar a estabelecer um sentido inteligível ao outro – esse possível leitor, essa possível leitora deste blog – daquilo que, antes delas, eu só saberia expressar via dor, receio, susto, mágoa, revolta, inquietação e perplexidade. Até penso que tudo isso cabe nos textos, mas persigo o encantamento e a amorosidade.

Nestes tempos em que ando chocada e silenciada com tanta maldade, sempre penso que o Criador deveria ter imposto limites para aquilo que um ser humano pode fazer a um outro ser humano.

Vejam só, eu, me dizendo pequenina e sem capacidade sequer de me expressar, mas criticando e querendo consertar a obra Dele! São nossas imperfeições se mostrando nas palavras!

O fato é que as notícias muito ruins que nos chegam nos afetam; as dificuldades do cotidiano nos bloqueiam; os desamores nos calam; há ações que nos surpreendem e que nos deixam indignados, quando não nos roubam o sono e se transformam em pesadelos... Tudo isso me silencia.

Assim, aquieto-me e ouço os sons do silêncio até as palavras voltarem a fazer sentido.

  


  
  

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