Minha filha, antenada com as tecnologias, como a maioria dos
jovens, me alerta sempre:
__Mãe, blog tem que ter constância. De vez em quando você abandona
seu blog! Você tem tantos textos já escritos, esperando serem publicados. Vai
lá, pelo menos uma vez por semana, e posta um deles.
Ela está na rede o tempo inteiro. É Twitter, Faceboook, Whatsapp,
Instagram, Skipe e o que mais vier. E eles têm sempre tanto a dizer, submetidos
à urgência da vida que clama por ação, por movimento, por plenitude, enfim.
Mas não é assim sempre. Pelo menos comigo não funciona
assim. Não consigo me impor essa obrigação de dizer sempre.
Há, de fato, textos escritos e adormecidos.
Como escreveu o Menalton Braff, textos precisam de “gaveta”. Nós
os escrevemos, os deixamos lá por um tempo e depois, voltamos a eles, muito
mais leitores que escritores.
Esse distanciamento nos permite melhorá-los, burilá-los, e até
mesmo descartá-los ou dar-lhes mais tempo de espera e de amadurecimento.
Às vezes, leio os textos já escritos à espera de publicação e
penso que ainda não é chegado o seu tempo ou mesmo que o seu tempo já passou,
pois não penso mais daquele modo. Teria que modificá-los, dar-lhes novas cores,
colori-los com tons outros, mais ou menos sutis. E eles ficam lá, na gaveta.
Mas a principal razão do meu silenciamento é que, às vezes, ou
quase sempre, as palavras não falam, não são o suficiente, não dão conta de
expressar o momento vivido, o sentimento, a situação.
E aí, o silêncio fala mais.
É o tempo do recolhimento; de ruminar, refletir, calar e sentir,
apenas.
É tempo de ouvir os sons do silêncio, na esperança de que novas
palavras cheguem e se assentem, e se organizem, ou mesmo de que as velhas
palavras ofereçam possibilidades outras de sentido – e elas sempre oferecem.
É tempo de aguardar que essas palavras possam me ajudar a
estabelecer um sentido inteligível ao outro – esse possível leitor, essa
possível leitora deste blog – daquilo que, antes delas, eu só saberia expressar
via dor, receio, susto, mágoa, revolta, inquietação e perplexidade. Até penso
que tudo isso cabe nos textos, mas persigo o encantamento e a amorosidade.
Nestes tempos em que ando chocada e silenciada com tanta maldade,
sempre penso que o Criador deveria ter imposto limites para aquilo que um ser
humano pode fazer a um outro ser humano.
Vejam só, eu, me dizendo pequenina e sem capacidade sequer de me
expressar, mas criticando e querendo consertar a obra Dele! São nossas
imperfeições se mostrando nas palavras!
O fato é que as notícias muito ruins que nos chegam nos afetam; as
dificuldades do cotidiano nos bloqueiam; os desamores nos calam; há ações que
nos surpreendem e que nos deixam indignados, quando não nos roubam o sono e se
transformam em pesadelos... Tudo isso me silencia.
Assim, aquieto-me e ouço os sons do silêncio até as palavras
voltarem a fazer sentido.
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