terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Somos pecinhas de Lego

Este título é uma paráfrase da metáfora utilizada pelo autor Reinaldo José Lopes no livro “Os 11 maiores mistérios do universo”, que acabo de ler.
Se, no universo, essas pecinhas não somente se encaixam perfeitamente como se movimentam numa sincronicidade perfeita formando o universo, na nossa vida de simples humanos, elas não se encaixam sempre tão bem assim, e nem sempre quando precisamos ou queremos.
Mas, nas nossas insignificantes e finitas vidas, algumas peças se encaixam com perfeição, felizmente. E há, para alguns sortudos, encaixes felizes que duram uma vida inteira; duram, às vezes, mais vidas, para os que, como eu, acreditam.
Há pecinhas, no entanto, que nunca se ajeitam, por mais que tentemos. Viramos de um lado, de outro, invertemos a posição e até forçamos o encaixe com sensação idêntica à que sentimos quando tentamos montar cubos mágicos: nunca funciona a tentativa, elas não encaixam.
Com essas, nossas relações são sempre atribuladas, imperfeitas, fadadas ao insucesso. Por isso, com muita frequência, desistimos delas e seguimos.
Mas há relações de encaixe que pareciam perfeitas, traziam conforto, segurança, paz, aceitação, amorosidade... tantos sentimentos bons, mas que, sem que saibamos como ou por que se desfazem, se desconectam, se desencaixam.
São esses desencaixes, essas perdas que lamentamos. Creio que quando vivenciamos perdas de algo que o dinheiro pode comprar, não há o que lamentar, mas quando perdemos aquilo que dinheiro algum pode comprar, é sempre o caso de se sentar no chão e chorar. Quem nunca se sentou no chão e chorou?
Há pecinhas cujo desencaixe merece muitas lágrimas, tal como escreveu o poeta hiperbólico Olavo Bilac: “Rios te correrão dos olhos, se chorares!”
Mas alguns dentre esses talvez nem fossem tão perfeitos assim. A gente idealiza relações, vê aquilo que quer ver e aí, o tempo, implacável, nos mostra esses encaixes nua e cruamente.
Por que estou pensando nisso?
É fim de ano, o Natal está chegando. Tempo de repensar a vida, de renascer de algum modo, de retomar caminhos, construir outros novos.
É tempo de planejar um novo presente no desejo de construir um novo passado.
Talvez por isso, eu tenha lido o livro o tempo todo pensando nas peças de Lego. Fui pensando no Lego que venho montando há 52 anos.
Tenho lidado bem com aqueles desencaixes cujo insucesso eu já suspeitava de início. Na vida, a gente perde!!!! É preciso deixar ir. Algumas relações simplesmente não dão certo e está tudo bem.
Que bom que outras dão. Muitas.
 Sou tão grata por encaixes que me iluminam a vida, me dão esperanças infindas, me dão forças para prosseguir.
Encaixes que me fazem sentir grande, importante, preciosa. Gente!
Mas lamento tanto quando encaixes que eu julgava tão perfeitos se desfazem sem explicações plausíveis, me deixando atônita e deixando também vazios que pecinha alguma ocupa. Não tem jeito: não encaixa.
Mas, é dezembro! É Natal!
Não me custa sonhar que essas pecinhas desencaixadas tão importantes na minha vida, magicamente, voltem a compor o meu grande Lego. Nem que seja numa outra vida...
E eu vivencie, outra vez, a sensação de completude, de inteireza, como aquela vivida pelos que acabam de montar o cubo mágico.
Viva!

Touché!