Minha
irmã, numa conversa, me diz:
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Hoje, encontrei um velhinho querendo conversa no mercado. E a reclamação dele é
que as mulheres atuais são diferentes da esposa dele: usam seu dinheiro só para
comprar roupas e joias; exigem babá, comer de marmita, passadeiras, lavadeiras
etc.
E
continuou:
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Então me senti uma mulher antiga, já que nunca exigi nada disso e fui cozinhar,
lavar, passar, pagar minhas contas....
Só
rindo.
Lembrei-me
de minha mãe, na hora. O velhinho, com certeza, a chamaria de mulher
antiquíssima. Ela, por exemplo, vivenciava o processo de produção dos alimentos
desde o início, participando de todas as etapas. Vejo-a na roça, plantando e
colhendo café; depois, à beira do fogão de lenha, torrando-o. E ainda moendo, e
fazendo aquele café cheiroso e forte no coador de pano pendurado na mariquinha.
Hoje,
eu me limito a ir ao mercado, comprar o café e, já em casa, pôr a quantidade
desejada juntamente com a água na cafeteira, que faz o restante do trabalho.
Pra falar a verdade, nem isso! Na minha casa, é o meu marido quem faz o café.
Mas,
em pleno 2015, continuo lavando roupas, passando, cozinhando, limpando casa....
Os caminhos que trilhei me trouxeram para essas ações. Sei que sou vista com um
certo estranhamento pelas minhas contemporâneas, como uma mulher deslocada do
seu tempo e do seu espaço. Também me vejo e me sinto anacrônica, às vezes.
Mas,
com relação às mulheres que já não são
mais as mesmas, talvez não se trate apenas de se negarem às tarefas, mas de
não saberem executá-las.
De
fato, nós não desenvolvemos todas as habilidades das nossas mães. Nossas filhas
também não desenvolveram todas as nossas habilidades. Entretanto, nós desenvolvemos outras
habilidades e o mesmo vale para as nossas filhas, em relação a nós.
Assim,
não podemos avaliar a questão em termos de melhores ou piores. Somos
diferentes, apenas isso. Cada época exige de nós saberes específicos. E é
permeada por interesses diversos aos da fase anterior e assim, sucessivamente. E
está tudo certo.
Os
saberes da minha filha, por exemplo, com relação à tecnologia, aos usos e
funções das redes sociais, por exemplo, eu estou longe de ter. E eu não espero
que ela pinte a Mafalda numa camiseta, faça tricô ou crochê nem costure a mão.
Claro
que há uma tentativa de mantê-las como nós, mesmo inconscientemente, de
ensinar-lhes o que sabemos e que julgamos ser útil, importante. Quando a
Larissa, minha filha, foi morar sozinha, para minha surpresa, eu a ouvi um dia
me agradecer por ter-lhe ensinado a lavar um banheiro. Jamais imaginei que ela
iria dar valor a este saber.
É,
minha irmã, somos mesmo mulheres antigas. Mas isso não nos impede de sermos atuais
também. Ou de, pelo menos, tentarmos.
Por
mim, venho tentando conciliar estes dois mundos. Vou continuar costurando a mão
e cerzindo roupas, quando for necessário; vou continuar um diário que iniciei
com escrita manuscrita; e ainda vou pintar e bordar.
Mas
quero o novo também. Meu próximo desafio: aprender a postar vídeos no Snapchat.
O primeiro foi cômico, um fracasso total. Calculei o que falar, sobrou tempo e
fiquei com cara de boba.
E o
velhinho? E se a esposa se for antes dele? E as filhas e as netas? Como será
que lida com elas?
Coitadinho!
Se não aprender a ver com outros olhos a situação; a reconhecer que há perdas,
mas que também há ganhos no processo; se não aprender a tirar proveito das
mudanças, terminará a vida ressentido, sentindo saudades de um passado que não
voltará e de uma mulher que não quer e/ou não pode mais ocupar aquele lugar.
As
mulheres antigas estão em extinção. Sempre estarão, porque as mulheres atuais
serão as mulheres antigas do futuro, vistas com espanto pelas jovens modernas
de lá. É assim.
Amei o texto, professora!! Me identifiquei com ele e concordo que,em cada uma de nós, mulheres atuais, temos um pouco das mulheres do passado e assim a vida seguirá seu curso.
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