Saudável

Letícia ama bolo de chocolate. E gosta de fazer.
A mãe tenta ajudá-la. Em cima de uma cadeira, para ficar na altura da bancada, vai misturando os ingredientes que a mãe vai adicionando aos poucos.
Depois, ajuda a untar a fôrma, despejar a massa e levar ao forno. No final, conta -nos, a todos, que fez um bolo. Já ganhei um dela, num dos retornos a Porto Velho. Uma maneira de me contar da sua saudade. Haveria guloseima melhor? Ser recebida com um bolo de chocolate "feito" pela netinha amada, especialmente para você?
Outro dia, chegou em casa e me pediu para fazer um. Cometi um grande erro. Na minha fase pré diabética, querendo fazer tudo diet, light, de baixa caloria, orgânico, vegano, vegetariano, numa mistura louca dos conceitos e dos valores, optei por um bolo de chocolate saudável. Jesus!
A farinha, integral. O açúcar, mascavo e em menor quantidade que a indicada na receita. No lugar do achocolatado, cacau puro. Resultado: um bolo assim, assim...
Esfarelando, sem sabor. Ou melhor: sem o sabor tradicional do clássico bolo de chocolate. O que ela gosta! Letícia, claro, desaprovou. Falei pra ela que era bom começar a gostar desse sabor. Que era saudável! Não a convenci. Não comeu nem metade do primeiro pedaço.
Passado um tempo, levei-a uma aula de Pilates comigo. Conversadeira como a avó, ela foi logo se entrosando. Coincidiu com um dia de celebração, comemoração do retorno às aulas, com as paredes recém pintadas, novinhas em folha. Como nós, seres humanos, costumamos celebrar a vida comendo juntos, repartindo o pão, tínhamos um bolo com café.
A Patrícia, nossa professora de Pilates, pergunta:
__Você gosta de bolo, Letícia?
E ela, como sempre, me surpreendendo:
__Gosto! Mas saudável não!
Tive que me explicar pras minhas companheiras de aula.
Meu Deus! Que vó sou eu?! Corrompi o conceito que a minha neta tem do que é saudável!? E agora, como consertar?
Ainda tive que ouvir a continuação da conversa entre as duas:
Patrícia:
__Leticia, deve ser muito bom ter uma avó que faz coisas gostosas pra você, hein?
Uma balançadinha de cabeça, meio que desdizendo a afirmação, uma carinha de " é, não é bem assim" e a resposta:
__ É! Mas o bolo....
Meu pai do céu!