Que belo
verbo! Que bela imagem! Retorno, regresso, retomada, recomeço. Um professor que
tive, de Literatura Brasileira, dizia-nos que viajar é muito bom; que a viagem
nos faz voltar melhores. A distância nos possibilita, na verdade, nos obriga a
um redimensionamento da vida que temos levado, das relações que temos
estabelecido.
Longe,
vemos o que, de fato, é essencial. Aparamos as arestas, limpamos a visão
daquilo que a turva no cotidiano, mas que não sobrevive a uma análise mais
apurada. De longe, é poeira, não tem a mínima importância, é bobagem.
Estou de
volta, depois de cinco longos meses e quinze dias de ausências e de saudades.
A minha
casa, os meus filhos, o meu marido, a minha rotina continua a mesma, mas ...
não é mais a mesma. Que prazer ver meus filhos retornarem da escola! Que
sensação boa estar com eles à mesa para o almoço. Que presente de Deus o café
cheiroso, no domingo pela manhã, eu e meu amado, quando os pequenos ainda
dormem.
Conversa
fiada, planos para o futuro, contas a pagar... e o café fumegando, aquecendo a
alma.
Dormir na
minha cama!! Meu Deus, como é bom!!
E pensar
que, antes da viagem, vínhamos reclamando do colchão velho e incômodo, afundado
na forma dos nossos corpos já marcados pelo incomensurável do tempo.
Agora é uma
maciez que causa espanto!
Bom tomar
banho no meu banheiro, vestir as roupas que ficaram pra trás, fazer uma tarde
de pastéis para molecada e cuidar dos
sobrinhos.
A vida se
transformou.
É. Meu
professor tinha razão.
Ao
voltarmos de uma viagem, nos tornamos melhores vizinhos, melhores pais,
melhores irmãos, melhores amantes...
Tudo o que
nos infelicitava antes passa a ter importância menor, já não dói tanto.
Dizem que
conselhos não são bons. De fato, tenho algumas restrições a eles. Parece que
quem vê de fora os nossos dramas, os nossos dilemas e as nossas limitações não
dá conta de vê-los em toda a sua complexidade. Mesmo assim, vou arriscar um
para o meu leitor: viaje!
Se não é
possível sair do estado, vá até um hotel fazenda, vá a Guajará-Mirim, Cacoal,
Vilhena. Vá, pelo menos, a Ariquemes. Se não der, pare em Candeias.
Se mesmo
assim, ainda é impossível, então, mude-se num final de semana. Hospede-se num
hotel aqui mesmo. Fique dois ou três dias... Experiencie a sensação de ser um
estrangeiro, de estar num lugar que não é seu, dormindo numa cama que não é a
sua, comendo alimentos diferentes, apreendendo hábitos, valores e rotinas que
não são as suas.
Depois,
arrume as malas e volte. A vida será muito melhor!
Eu, pelo
menos desta vez, pretendo seguir este conselho.
Espero que
a magia desses dias de vida nova dure muito tempo, mas, quando eu sentir que
ela começa a esvair-se, que ela inicia um processo lento de extinção, vou fazer
uma viagem. Não preciso de sofridos cinco meses e quinze dias, nem preciso ir
longe. Quero apenas olhar a minha vida com olhos
de ver e percebê-la dádiva, presente e milagre.
Aí, então,
volto para os meus.