sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Huummmm! Delííííícia!!!!



Era por volta de seis horas da manhã. Manhã de um domingo. Dia 15 de julho de 2012.
Estávamos exaustos. Vínhamos de uma experiência que, cada vez mais, as pessoas estão vivenciando na cidade de Porto Velho, que inchou – e não cresceu – após e durante o advento das usinas: batida no trânsito. Se bem que, naquele caso, nem foi por causa do aumento da frota e nem da negligência de outros motoristas.
Foi por causa de negligência sim, mas apenas do meu caçula, recém-motorista, antes da conscientização de que um carro é uma arma e de que, à noite, deve-se parar até no sinal verde e dirigir com velocidade máxima de 50 quilômetros por hora etc. essas informações que nós, pais, repetimos, incansavelmente, e que eles, os filhos, já nem ouvem mais, e chamam de blá-blá-blá. Enfim, o acidente foi antes de ele amadurecer como motorista.
Fui acordada por volta das quatro horas da manhã, pelo mais velho que, esbaforido, tentava achar os dados da seguradora. Em seguida, e antes que pudesse respirar e assimilar a notícia, outro telefonema. Desta vez, era uma amiga da minha filha que, tão esbaforida quanto, me dizia: Tia, estamos indo aí te buscar! O Lucas está queimado!
Quem é mãe pode imaginar meu desespero.
Levantei-me, troquei de roupa e saí reunindo o que eu julgava que seria útil: algodão, rifocina, soro fisiológico, pomada contra queimadura.
Chegando lá, vi o Lucas, em pranto, com o braço queimado: o air bag abriu um minuto após a batida e soltou um ar quente que o atingiu. Além disso, um pequeno hematoma próximo ao olho e um corte no braço.
Um amigo, com o nariz sangrando e outra amiga, com as marcas da freada causadas pelo cinto de segurança.
Depois...bem, depois o de sempre: contato com seguradora, guincho, espera, justificativas, explicações e mais espera.
Soube depois que a galera que lá estava reunida quando eu cheguei – é impressionante a capacidade que eles têm, em tempos de celular e de internet, para se comunicarem: é instantâneo, imediato - se preparou para ouvir a bronca que eu daria.
Como uma mãe que sabe que o filho sofreu um acidente de trânsito e que está ferido pode brigar antes de acudir, socorrer, fazer curativo, abraçar, acalmar? Pudemos rir dias depois, que é o que fazemos todos nós quando os imprevistos que nos ocorrem não são fatais e podem, com o tempo, ser esquecidos.
Voltemos agora às seis horas da manhã, horário com o qual iniciamos essa conversa.
À mesa da cozinha, atordoada, com dúvidas sobre se conseguiria voltar a dormir, pensei num chá.
Aqueci a água meio em câmera lenta, escolhi camomila, é claro, e aguardei o tempo necessário da infusão. O Lucas já no quarto, ressabiado, assustado ainda.
Aí vi minha linda menina, sentada à mesa também e me vi perguntando-lhe:
__ Você quer chá, filha?
E ela:
__ Quero, mãe, vou ficar aqui com você e tomamos chá juntas.
Assim que eu a servi, ouvi sua voz:
__ Huuummmm, delícia! E tomamos juntas e demoradamente o chá, vendo a claridade do dia vir chegando.
Precisei de alguns dias para entender o que houve naquele dia: a Larissa detesta chá! Jamais toma chá!
Só então constatei o seu gesto generoso e solidário. Não pôde me deixar sozinha na cozinha, o dia amanhecendo, eu, naquele estado de perplexidade.
Dividindo o chá comigo, sentiu-se dividindo as minhas dores também.
Em dias difíceis, esta lembrança me aquieta a alma. Posso me perdoar pelas minhas limitações, pelas minhas fraquezas.
Se fui capaz de gerar seres humanos tão delicados – e eu fui – é que houve acertos na caminhada.
Graças.
Assim, nesses dias difíceis, me lembro, às vezes, dessa loirinha dizendo:
__ Huuummmm, delícia!
E rio, feliz!
Como estou rindo agora.

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