Adoro
as pessoas determinadas, donas do seu nariz, que sabem o que querem e não se importam com a opinião alheia.
Talvez
por ter demorado a conseguir ser assim. Os outros sempre foram o meu inferno.
Fui ensinada a me preocupar com o que os outros vão falar, com o que os outros
vão pensar.
A vida me ensinou que os outros não pagam as
minhas contas. Os outros não estão preocupados com a minha felicidade. Os
outros não querem saber se há feijão na minha mesa. Os outros são os outros.
Queria
ter sido assim desde pequena.
Por
isso, gosto muito de educar meus filhos para que sejam livres dos outros. Para
que sigam seus valores, para que sejam dignos, decentes, mas não cobaias dos
outros.
O
meu filho Lucas é a personificação desse tipo de personalidade.
Recentemente,
ele estava com poucas e velhas meias e reclamou. Fui, então providenciar uma
renovação das próprias. Com pressa, atrasada e cheia de compromissos para
ontem, acabei por comprar um tipo de meias que ele não costumava usar. Ao invés
de comprar as tipo soquete, de cano curto, boas para usar com tênis, comprei,
por engano, umas de cano longo, com a estampa de um desses personagens de
desenho animado que passa na tevê.
No
dia seguinte, ouvi a Larissa mal humorada dizer que não iria para a escola com
o irmãozinho vestido daquele jeito, que ele a mataria de vergonha.
Fui
ver o que acontecia para, como toda mãe, sempre, apaziguar os ânimos. Encontrei
um leãozinho com as meias esticadas até a altura do joelho, encontrando se com
a barra da bermuda, decidido a usar as suas meias assim. Tinha adorado a
estampa e queria que ela ficasse à mostra.
Argumentei
que não era assim que ele estava acostumado a usar. Que os colegas estranhariam
e até ririam dele, e o ridicularizariam.
Não
se importou. Queria ir assim. Não estava fazendo mal a ninguém. Não ligaria
para as chacotas dos coleguinhas, se elas acontecessem.
E
foi. Comentei com o Tito que ele, com certeza, não suportaria as pressões na
escola e acabaria abaixando as meias.
Me
enganei completamente.
O
Lucas voltou ao meio dia com as meias na altura dos joelhos, com um olhar de
felicidade suprema. Fiquei muito feliz. Meu filho já sabe o que quer. E tem
apenas seis anos.
Num outro episódio, travou uma briga com o
pai. O motivo dessa vez era o cabelo. O pai gosta de vê-lo com um corte surfista. Ele adora máquina dois na
cabeça inteira. O pai argumenta que fica feio. Que a cabeça dele é meio torta,
que não fica bem.
Ele
retruca dizendo que a cabeça é dele. Que é ele quem tem que escolher. Que
aquele corte não o prejudica e nem prejudica outras pessoas. Qual o problema?
No
salão, comigo, enfrenta uma nova batalha. Muitas mulheres, todas dando
palpites:
__
Vai cortar? Corta surfista. Vai ficar lindo.
__
Por que não corta com franjinha, arredondando na nuca. Esse cabelo loirinho vai
ficar uma graça!
Lucas
silencioso, calmo, tranquilo.
Na
hora H, a cabeleireira, Neide, pergunta:
__
E aí, Neusa? Como é que eu corto?
Eu,
rindo um pouquinho por dentro, respondo:
__
Neide, pergunte ao Lucas. Vai ser do jeito que ele quiser.
E
ele, sereno:
__
Pode passar máquina dois na cabeça inteira!
Voltamos
do salão. Um carequinha vem ao meu lado, feliz. Em casa, o pai, sem tato:
__
Ah! Lucas! Ficou feio.
__
Pai, eu gosto assim.
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