quarta-feira, 9 de julho de 2014

Não vai embora não...

As pessoas que amamos se vão. Mais cedo ou mais tarde. É fato.
Partem para estudar, para trabalhar, para viver.  Vão amar outras pessoas. Ou, até mesmo, falecem.
Nós, humanos, somos os únicos seres vivos que nascem sabendo que irão morrer. Mas vivemos como se fôssemos eternos. Inclusive, nos permitimos nos surpreender com a morte.
Quando recebemos uma notícia de falecimento, exclamamos: Fulano? Não acredito?! Não pode ser!!! Morreu? Tão novo?! Justo agora que casou, ou que se formou ou que arranjou um novo emprego... enfim...
A ilusão da eternidade é necessária, é fundamental. Sem ela, a vida pareceria um fardo pesado demais, com a flecha da morte apontada para as nossas cabeças, todo o tempo. Seria insuportável.
Olha a prova da ilusão aí: vejam os verbos que utilizei, na terceira pessoa: nascem, irão... como se eu dissesse eles e não eu!  E a expressão: até mesmo, como se fosse opção e não destino!
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Meu marido, no início do ano, visitou sua mãe, D. Alice. Passou uns quinze dias com ela. Foi ser filho.
Estando lá, utilizou o seu tempo tentando resolver problemas típicos de todas as casas: fez pequenos consertos hidráulicos e elétricos, aparou a grama, limpou e pintou o telhado, comprou armários novos para a cozinha, trocou a pia, coordenou o trabalho de instalação, sempre tentando agradá-la com a cor, com o tamanho e com o formato de tudo. Tinha carta branca e o cartão bancário dela em mãos também.
Sempre que nos falávamos pelo telefone, ele relatava as ações do dia. Estava feliz. E me contava que dizia à mãe, inúmeras vezes:
__ Mãe, a senhora é quem manda. É só a senhora mandar e eu obedeço. E ela ria.
Já nos dias de vir embora, ele, repetindo a frase já dita tantas vezes “Mãe, é só a senhora pedir e eu faço!!”, ouviu-a dizer:
__ Ah é? É só eu pedir que você me atende? Então tá! 
E pediu:
__ Não vai embora não...
Quando ele me contou isso, eu me emocionei e fiquei mesmo penalizada. Que dó!!!
Como mãe, sei muito bem o que é querer que um filho fique mais um pouquinho, mas saber que ele tem que ir.
Desejei, por um instante, mesmo sabendo da impossibilidade de ter meu desejo satisfeito, que ele fosse dois – um pra ficar lá com ela e outro pra voltar pra nós.
Ele retornou e a vida seguiu seu curso.
Recentemente, minha sogra esteve muito doente.
Tivemos, todos, medo de que se desse a sua partida.
Nestes dias difíceis, me vi imaginando-a: sempre de bom humor, com uma carinha sapeca de criança que fez arte e que sabe que fez, o seu jeito serelepe, as piadinhas e as brincadeiras maliciosas e, às vezes, picantes, que gosta de fazer e de contar - ainda vou escrever textos sobre elas.
Enfim, me vi relembrando sua leveza, que tão bem fez e faz a todos os seus amados....
Nesses momentos, me vi repetindo a sua frase:
__ Minha querida D. Alice, não vai embora não...
E ela não foi. Está se recuperando, já, já volta pra casa.
Deus, pai de extrema bondade, desta vez, atendeu os nossos pedidos.  
Que bom!
É verdade que aqueles que amamos se vão. Mais cedo ou mais tarde.
Que seja, sempre, mais tarde!!!
Não custa nada pedir, mesmo na desesperança, aos que amamos:
__ Não vai embora não...

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