As
pessoas que amamos se vão. Mais cedo ou mais tarde. É fato.
Partem
para estudar, para trabalhar, para viver.
Vão amar outras pessoas. Ou, até
mesmo, falecem.
Nós,
humanos, somos os únicos seres vivos que nascem
sabendo que irão morrer. Mas vivemos
como se fôssemos eternos. Inclusive, nos permitimos nos surpreender com a morte.
Quando
recebemos uma notícia de falecimento, exclamamos: Fulano? Não acredito?! Não
pode ser!!! Morreu? Tão novo?! Justo agora que casou, ou que se formou ou que
arranjou um novo emprego... enfim...
A
ilusão da eternidade é necessária, é fundamental. Sem ela, a vida pareceria um
fardo pesado demais, com a flecha da morte apontada para as nossas cabeças, todo
o tempo. Seria insuportável.
Olha
a prova da ilusão aí: vejam os verbos que utilizei, na terceira pessoa: nascem,
irão... como se eu dissesse eles e não eu! E a expressão: até mesmo, como se fosse opção
e não destino!
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Meu
marido, no início do ano, visitou sua mãe, D. Alice. Passou uns quinze dias com
ela. Foi ser filho.
Estando
lá, utilizou o seu tempo tentando resolver problemas típicos de todas as casas:
fez pequenos consertos hidráulicos e elétricos, aparou a grama, limpou e pintou
o telhado, comprou armários novos para a cozinha, trocou a pia, coordenou o trabalho
de instalação, sempre tentando agradá-la com a cor, com o tamanho e com o
formato de tudo. Tinha carta branca e o cartão bancário dela em mãos também.
Sempre
que nos falávamos pelo telefone, ele relatava as ações do dia. Estava feliz. E
me contava que dizia à mãe, inúmeras vezes:
__
Mãe, a senhora é quem manda. É só a senhora mandar e eu obedeço. E ela ria.
Já
nos dias de vir embora, ele, repetindo a frase já dita tantas vezes “Mãe, é só
a senhora pedir e eu faço!!”, ouviu-a dizer:
__ Ah
é? É só eu pedir que você me atende? Então tá!
E pediu:
__ Não vai embora não...
E pediu:
__ Não vai embora não...
Quando
ele me contou isso, eu me emocionei e fiquei mesmo penalizada. Que dó!!!
Como
mãe, sei muito bem o que é querer que um filho fique mais um pouquinho, mas saber
que ele tem que ir.
Desejei,
por um instante, mesmo sabendo da impossibilidade de ter meu desejo satisfeito,
que ele fosse dois – um pra ficar lá com ela e outro pra voltar pra nós.
Ele retornou
e a vida seguiu seu curso.
Recentemente,
minha sogra esteve muito doente.
Tivemos,
todos, medo de que se desse a sua partida.
Nestes
dias difíceis, me vi imaginando-a: sempre de bom humor, com uma carinha sapeca
de criança que fez arte e que sabe que fez, o seu jeito serelepe, as piadinhas e
as brincadeiras maliciosas e, às vezes, picantes, que gosta de fazer e de
contar - ainda vou escrever textos sobre elas.
Enfim,
me vi relembrando sua leveza, que tão bem fez e faz a todos os seus amados....
Nesses
momentos, me vi repetindo a sua frase:
__
Minha querida D. Alice, não vai embora não...
E
ela não foi. Está se recuperando, já, já volta pra casa.
Deus,
pai de extrema bondade, desta vez, atendeu os nossos pedidos.
Que
bom!
É
verdade que aqueles que amamos se vão. Mais cedo ou mais tarde.
Que
seja, sempre, mais tarde!!!
Não
custa nada pedir, mesmo na desesperança, aos que amamos:
__
Não vai embora não...
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