sábado, 17 de junho de 2017

Mais uma vez...partir.

     Amanheci com o livro "O pequeno príncipe" na mente. É muito citado. Merecidamente. Dele, os trechos mais lembrados, provavelmente, são: "O essencial é invisível aos olhos" e "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
     Gosto muito dos dois, mas o que mais me retorna à mente, e me impacta nas releituras, além do desenho da serpente, é o diálogo entre o pequeno príncipe e o guarda-chaves, numa estação, com o pequenino sem compreender aqueles trens cheios que se movem em direção opostas, sem conseguir dar sentido à razão pela qual os que estão aqui querem ir pra lá e os que estão lá querem vir pra cá.
     A resposta do guarda - chaves indica a dificuldade que nós, os seres humanos,  temos para nos apaziguarmos com o nosso entorno:
"__ Não estavam contentes onde estavam?
__ Nunca estamos contentes onde estamos."
     Penso nisso porque, mais uma vez, está chegando a hora de ir. Outra partida.
     Mas, diferentemente da constatação do guarda-chaves, estou feliz aqui e estou feliz lá. No meu caso, a dificuldade não é estar bem onde eu estiver. É querer ser duas, é querer viver duas vidas. Estar aqui e lá simultaneamente.
Isso soa quase como ingratidão. Como se eu não reconhecesse as dádivas que tenho recebido.
     Mais ainda. Como se eu não fosse capaz de compreender as muitas vidas que tenho vivido.  Todos os recomeços. Todas as novas chances e oportunidades. E as muitas mulheres que puderam viver em mim e que me coabitam ainda agora.
     Reconheço.  Compreendo. E sou grata.
     Mas sempre queremos mais, não é?
     Na impossibilidade da concretização do desejo, resta-me abençoar este espaço,  este tempo. Bendizer esta minha amada que fica, seguindo a vida. E vislumbrar a chegada.  Já me regozijando com os abraços,  os carinhos e os mimos que me aguardam. E também me preparando para os problemas do cotidiano, aos quais nenhum mortal está imune.
     Num livro que li esses dias: "A vida que vale a pena ser vivida", dos autores Clóvis de Barros Filho e Arthur Meucci, uma constatação é a de que, no final das contas, o único patrimônio  que temos é a soberania de deliberar sobre a vida que queremos viver. Soberania esta tão atacada pela mídia e por outras instâncias que tentam- e muitas vezes conseguem- decidir por nós, inclusive, sem que percebamos.
     Vivemos a ilusão de que fomos nós que escolhemos aquela roupa, aquele trabalho, as férias naquele lugar, a cidade em que moramos, os nossos valores e conceitos, enfim, a vida que vale a pena ser vivida.
     Estou em paz. Escolhi estar aqui e agora como também escolhi partir e estar lá nos próximos dias. 
     Pacificada. 
     Simbora!
     Meu corpo embarca.
     Mas um pedaço do meu coração fica.

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