Depois de uma longa e ótima viagem, embarcamos em Natal, há pouco mais de um mês, meu marido, Tito, e eu. Quase no mesmo horário. Ele no portão nove, e eu, no onze. Nos despedimos e ficamos vendo um ao outro, cada um na sua fila. Eu, de volta a Porto Velho. Ele, a caminho de São Paulo e depois, de Bauru e depois, de Inúbia Paulista, com a incumbência de reformar a casa da mãe.
Senti uma peninha de nos separarmos. Podemos chamar de amor. Podemos dizer que é costume. Nos acostumamos um com a presença do outro. Ainda mais nos últimos cinco meses em que, com a aposentadoria dele, passamos a ficar mais tempo juntos, dividindo todos os momentos de tarefas e de lazer.
Senti uma peninha de nos separarmos. Podemos chamar de amor. Podemos dizer que é costume. Nos acostumamos um com a presença do outro. Ainda mais nos últimos cinco meses em que, com a aposentadoria dele, passamos a ficar mais tempo juntos, dividindo todos os momentos de tarefas e de lazer.
Nos longos primeiros anos de casamento, nos casos em que ambos os cônjuges trabalham, somos mais administradores de uma casa e pais, que marido e mulher. Os filhos crescidos, seguindo suas vidas, possibilitam o reencontro.
Por isso, deu um apertinho no coração, mesmo sabendo que seria um afastamento provisório.
De lá pra cá, estamos ambos cuidando. Ele, da casa da mãe e do irmão que precisa de cuidados especiais.
Eu, da nossa casa. Muito trabalho nos primeiros dias: a sensação de que a floresta amazônica quis recuperar seu espaço, de tantos bichos e de tanto mato. A umidade da região, potencializada pela época de chuvas, também me ocupou com mofo em, praticamente, tudo. Até o armário das panelas estava mofado. Aquele mofo que parece uma espuma, uma esponja. Um bioma.
A previsão é de que a reforma lá deve perdurar. A casa será destelhada e o telhado refeito, pois as telhas, com mais de sessenta anos, estão desmanchando. Um antigo salão que carece de aterro, de janelas e de piso também cobrará o seu tempo. E, como sabemos, em reforma, o Jaque é quem manda: já que quebrou aqui, conserta ali; já que rebocou aqui, pinta ali. E todos os problemas da construção ficam visíveis.
Nossa comunicação, via whatsapp -santo whatsapp - algumas vezes por dia, é por áudio e por vídeo. Contamos um ao outro o progresso, o andamento e trocamos fotos.
E a retomada da rotina. No Pilates, as amigas brincam:
__ Tá sentindo falta, Neusa?
__ Siiim! Na hora de fazer o café, pela manhã. Quando tenho que levar o lixo pra rua. Quando preciso ir ao supermercado!
Ah!Ah!Ahhhh! As tarefas dele!
E rimos!
Também ter a cama de casal toda pra mim. Os controles do ar e da TV, o celular. E o rosto cheio de creme.
Mas, brincadeiras à parte, faz falta sim!
E aí, já na primeira semana, ele começou:
__ Vem pra cá!
__Tito,você é sem noção! Não dá! O cartão tá gritando de tantas passagens parceladas em até duas vidas!
__Tito,você é sem noção! Não dá! O cartão tá gritando de tantas passagens parceladas em até duas vidas!
Foi sempre assim: eu, o feijão; ele, o sonho.
Seria cômico se não fosse trágico.
Na última segunda feira, reencontro, no Pilates, uma querida amiga cujo marido faleceu em janeiro. Abraços, condolências, rememorações e explicações para o inexplicável. A morte não precisa de justificativas.
E lágrimas.
Choramos todas. Por ela, por nós mesmas. Pelos que sofrem.
Perder quem amamos é provação difícil, é enfrentamento doloroso do vazio. É para os fortes.
Contando pra ela que voltei sozinha, que o Tito estava me chamando, mas que eu não iria porque nem cheguei direito, porque as contas, porque... porque... mil razões para não ir...
E ela me surpreende:
__ Vai, Neusa. Dá valor pro Tito. Aproveita o seu companheiro.
Vou.
Claro que vou.
Dane - se o cartão. Que grite à vontade.
Vou aproveitar pra rever minha filha. Vou comemorar com os Tezzaris os 92 anos da minha sogra e vou buscar o Tito.
Obrigada, minha querida amiga, por, mesmo estando mergulhada na sua dor, ter a generosidade de me fazer ver que a vida é agora.
Que a vida é tão rara!
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