Se
me pedissem para escolher o que é que eu gostaria que desaparecesse da face da
terra, das nossas rotinas, das nossas lembranças, sem sombra de dúvidas, eu
responderia: as despedidas.
Elas
são o que há de mais dolorido, o que há de mais tirano: ver o outro, a outra, aqueles
a quem amamos partirem, sem podermos impedir, sem podermos parar o tempo.
Ter
que adentrar numa sala de embarque, subir num ônibus que ameaça partir, vendo
olhos de dor e de tristeza a nos acompanharem até desaparecermos é terrível.
Escrevi na minha tese um agradecimento que
exemplifica bem meu sentimento em relação às despedidas: Ao meu caçula Lucas, cuja imagem na despedida para o segundo estágio
insiste em permanecer na minha mente e no meu coração e representa, com
certeza, os custos emocionais desse doutoramento − olhos perplexos e
impotentes, lagrimonas grossas
ferindo o rosto, lábios e queixo trêmulos.
Um
trem sumindo à distância, uma plataforma de embarque em qualquer rodoviária,
aquela voz que avisa que é a última chamada para o voo que se deseja nunca ver
iniciado são tudo o que eu gostaria de não ver acontecer comigo nem com
ninguém.
Então,
carrego comigo o sonho utópico de que as pessoas que se amam não se separem
jamais.
Já
viajei por horas sem fim, dentro de um ônibus, chorando de soluçar, sem a menor
vergonha. Os olhares à minha volta pareciam se perguntar o porquê, lá no fundo,
sabido por todos.
Não
lamento apenas a minha dor. Lamento todas as dores de todas as despedidas.
Se
eu estou saindo para uma viagem curta e se estou um pouco mais em paz, consigo observar
as pessoas à minha volta se despedirem. Vejo e entendo profundamente os seus
gestos mais discretos: os choros, os adiamentos para entrarem nos ônibus, para
adentrarem nas salas de embarque: param na porta, olham pra trás, voltam para
mais um abraço, mais um beijo.
Choramos
numa despedida por não sabermos quando é que veremos as pessoas que vão ficando
pequenas na medida em que nos afastamos.
A
verdade é que nunca se sabe quando, mesmo quem planejou dia, hora, mês e já
marcou até passagem de volta. A volta é sempre uma incógnita, é sempre uma (im)
possibilidade. Por isso sonhada, desejada, planejada. Talvez, por isso, digam
que o melhor da viagem é a volta.
Choramos
numa despedida por querermos ficar um pouco mais com nossos filhos, nossos
pais, nossos amigos, nossos amores.
Choramos
numa despedida porque sabemos que vai doer viver, que o tempo não vai passar ou
vai passar tão lentamente que teremos a sensação de que deixamos de viver no
momento da partida.
Um amigo caro uma vez me
disse que saudade não é a tristeza por alguém ausente, é a dor de alguém
presente. Dói porque nós não deixamos as pessoas, nós a levamos conosco, dentro
de nós. Se as deixássemos, se conseguíssemos deixá-las, não seriam importantes,
não doeria.
Sinto saudades.
I miss you.
Te estoy echando de menos.
Carreguei,
ao longo de tantas despedidas horrorosas que a vida me deu, um grande número de
pessoas. E como elas doeram!
Carreguei
meu pai, minha mãe e meus irmãos na vinda para Rondônia. Bagagem pesada!
Carreguei-os,
muitas outras vezes, nas voltas e voltas.
Foi
assim com meu pai, na última vez que o vi, sem saber que era a última.
Tem
sido assim com os meus amados, a cada viagem.
Fico
com medo de não voltar, de não poder dizer de novo e de novo o quanto os amo, o
quanto são especiais para mim. Por isso, tenho tentado me policiar para não
sair de casa brigando com eles. Nesses momentos, paro e lhes desejo o melhor.
Frequentemente,
quando vou viajar à noite e deixo os meus pequenos dormindo, faço-lhes um
cafuné e digo-lhes baixinho no ouvido: Vocês
são criaturas maravilhosas de Deus. Há um futuro brilhante a sua espera. Vocês
crescerão saudáveis, felizes e serão sempre amados.
É o
meu jeito de dizer que tenho medo dos imprevistos.
Que
tenho medo de não voltar, de não vê-los novamente. Que não sei o que me está
reservado amanhã. Que não tenho o poder de decidir sobre a vida e sobre a
morte. Que não estou certa de merecer oxigênio para mais um dia.
Mesmo
sabendo que tenho tentado justificar minha presença no mundo, todos os dias.
Será
assim.
E
doerá.
Sempre.
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