terça-feira, 21 de janeiro de 2014

É do tempo do Ronca!!!

Um dos dramas das mulheres da classe média, quando se casam, tem a ver com a inevitável comparação dos seus dotes culinários com os da sua sogra, e elas, as mulheres, perdem sempre, é claro, nessa comparação.
No meu caso, a vida foi me obrigando a me transformar numa cozinheira melhor, mas, quando me casei, sabia pouco dessa arte, pois tinha tido uma infância na qual os alimentos eram raros e sem diversidade.
Quando a questão da alimentação é crítica, não há como educar na arte da culinária – o desafio é buscar garantir que haja algo na mesa hoje, amanhã e depois de amanhã e depois e depois, um dia de cada vez. Deste modo, não há espaço para a dimensão lúdica do alimento. Em outras palavras, na minha infância, comida não era brincadeira.
Imagino que era muito difícil para a minha mãe, na verdade, era impossível tentar nos ensinar algo relativo à culinária, afinal, para ensinar alguém a cozinhar, há que haver alimentos, e alimentos em abundância, para o caso de os aprendizes estragarem algumas receitas. Não era a nossa situação, na minha infância.
Então, padeci muito quando me casei, com minha pouca ou nenhuma habilidade com as panelas.
Numa das vezes, no Natal, meu marido comentou à mesa, rodeado praticamente pela família inteira que, diga-se de passagem, é constituída por muitas mulheres e mulheres que são excelentes cozinheiras,  o quanto estava com saudade do feijão da D. Alice. Eu, boba demais, chorei até me acabar.
Quem me salvou foi a Maruza, minha cunhada, já com as marcas da liberação feminina, quando me disse:
__ Neusa, ele se casou com você. Vai comer o feijão que você fizer!
Nessas idas e vindas, ouvi, ao longo de muitos anos, o Tito exaltar um dos doces que a mãe fazia.
Num outro final de ano, a família reunida novamente, e eu, munida de boa vontade, decidida a aprender o passo a passo daquele doce, com a intenção de que o faria, da melhor maneira possível, quando voltasse para casa.
Ao perguntar para minha sogra sobre o doce, indicando meu desejo de aprender a fazê-lo e de fazê-lo no capricho, ela me respondeu:
__ Ah! Minha filha! Isso é do tempo do Ronca! Há muitos anos eu deixei de fazer. Agora, eu compro pronto.
Minha querida D. Alice, me dando lições de modernidade, a mim, que me julgo tão moderna!
Meu filho Lucas, em outros tempos, me diria:
__ Toma-lhe! Toma-lhe! Toma-lhe!


Um comentário:

  1. esse Tito e suas saudades que atormentam... faço isso também com a Izabel ao me lembrar de algumas coisas gostasas que minha mãe faz. ela ouve e ignora!

    ResponderExcluir