Um
dos dramas das mulheres da classe média, quando se casam, tem a ver com a
inevitável comparação dos seus dotes culinários com os da sua sogra, e elas, as
mulheres, perdem sempre, é claro, nessa comparação.
No
meu caso, a vida foi me obrigando a me transformar numa cozinheira melhor, mas,
quando me casei, sabia pouco dessa arte, pois tinha tido uma infância na qual
os alimentos eram raros e sem diversidade.
Quando
a questão da alimentação é crítica, não há como educar na arte da culinária – o
desafio é buscar garantir que haja algo na mesa hoje, amanhã e depois de amanhã
e depois e depois, um dia de cada vez. Deste modo, não há espaço para a
dimensão lúdica do alimento. Em outras palavras, na minha infância, comida não
era brincadeira.
Imagino
que era muito difícil para a minha mãe, na verdade, era impossível tentar nos
ensinar algo relativo à culinária, afinal, para ensinar alguém a cozinhar, há
que haver alimentos, e alimentos em abundância, para o caso de os aprendizes
estragarem algumas receitas. Não era a nossa situação, na minha infância.
Então,
padeci muito quando me casei, com minha pouca ou nenhuma habilidade com as
panelas.
Numa
das vezes, no Natal, meu marido comentou à mesa, rodeado praticamente pela
família inteira que, diga-se de passagem, é constituída por muitas mulheres e
mulheres que são excelentes cozinheiras,
o quanto estava com saudade do feijão da D. Alice. Eu, boba demais,
chorei até me acabar.
Quem
me salvou foi a Maruza, minha cunhada, já com as marcas da liberação feminina, quando
me disse:
__
Neusa, ele se casou com você. Vai comer o feijão que você fizer!
Nessas
idas e vindas, ouvi, ao longo de muitos anos, o Tito exaltar um dos doces que a
mãe fazia.
Num
outro final de ano, a família reunida novamente, e eu, munida de boa vontade,
decidida a aprender o passo a passo daquele doce, com a intenção de que o
faria, da melhor maneira possível, quando voltasse para casa.
Ao
perguntar para minha sogra sobre o doce, indicando meu desejo de aprender a
fazê-lo e de fazê-lo no capricho, ela me respondeu:
__
Ah! Minha filha! Isso é do tempo do Ronca! Há muitos anos eu deixei de fazer.
Agora, eu compro pronto.
Minha
querida D. Alice, me dando lições de modernidade, a mim, que me julgo tão
moderna!
Meu
filho Lucas, em outros tempos, me diria:
__
Toma-lhe! Toma-lhe! Toma-lhe!
esse Tito e suas saudades que atormentam... faço isso também com a Izabel ao me lembrar de algumas coisas gostasas que minha mãe faz. ela ouve e ignora!
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