sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Estados de graça

Estamos em estados de graça quando transcendemos, quando perdemos a noção de tempo e de espaço e ficamos em suspensão. Com uma sensação de plenitude, de extrema calmaria, acompanhada de uma felicidade ímpar, gratuita, genuína.
Não é fácil vivenciar estes estados com frequência.  Às vezes, é difícil até de perceber que eles ocorrem. Uma forma de propiciar nossa percepção dos mesmos é buscarmos fortalecer a intuição, criarmos momentos de silenciamento, de introspecção e de meditação; às vezes, porém, não é necessário nada disso: nós, simplesmente, os sentimos.
Penso que o avanço da idade nos ajuda a reconhecê-los e a vivenciá-los mais plenamente. Pelo menos comigo tem sido assim.
Os mais plenos estados de graça que tenho tido a felicidade de vivenciar ultimamente têm vindo da minha neta Letícia que, com seus onze meses de idade, fazendo tudo o que uma criança nessa fase faz – e que a gente, bobamente, acha que é só aquela criança que amamos é que faz –  me toma por completo.
Cada vez que a vejo, ganho alguns anos de vida extra.
Quando canto para ela, embalando-a na rede: Carinhoso, de Pixinguinha:
“Meu coração, não sei por que, bate feliz quando te vê...”
Ou Ana e o mar, do Teatro Mágico:
“Ana e o mar, mar e Ana
Histórias que nos contam na cama
Antes da gente dormir...”
Ou Andança, de Paulinho Tapajós:
“Olha a lua mansa a se derramar
(me leva amor)
Ao luar descansa meu caminhar
(amor)
Seu olhar em festa se fez feliz...”
Também quando engatinho com ela. Também quando, no banho, perco a noção do tempo, vendo-a bater as mãozinhas na água, molhando todo o espaço em volta. E quando faz bico e quando fala tetetetete, mamamama, e quando abre os braços em minha direção e quando ri e quando....
As dores na coluna desaparecem como por encanto. As dívidas evaporam. Todos os problemas se vão. Pena que voltam, as dores, as dívidas e os problemas, quando ela se vai.
Ao longo da vida, outros estados de graça me acompanharam: sempre, ver meus filhos voltando pra casa me enche de graça, especialmente, quando voltam à noite e vejo que sobreviveram, mais uma vez, à selva de pedra. Até já escrevi sobre isso em outro texto.
E em tantos outros momentos.
Quando vejo o mar, fico em completo estado de graça.
Quando faço uma comida que sei que meus amados gostam e os surpreendo, como ao fazer uma feijoada ou um yakissoba numa segunda ou terça-feira e vê-los chegarem e se espantarem e aquele espanto ser puro prazer. Mesmo quando, no cardápio do dia a dia faço um dos seus pratos preferidos: asinha de frango bem frita para o Thiago; carne assada ou frita para o Lucas; couve refogada para a Larissa. Suas reações são sempre bênçãos. E eu fico em estado de graça.
Quais as situações em que vocês ficam em estado de graça? Cultivem-nas. Estimulem-nas para que ocorram, sempre.
Neste meu primeiro texto de 2014, desejo a todos os leitores deste blog que vivam muitos estados de graça, que os reconheçam e que os fruam plenamente.
Um Fenomenal 2014 a todos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário