Estamos
em estados de graça quando transcendemos, quando perdemos a noção de tempo e de
espaço e ficamos em suspensão. Com uma sensação de plenitude, de extrema
calmaria, acompanhada de uma felicidade ímpar, gratuita, genuína.
Não
é fácil vivenciar estes estados com frequência. Às vezes, é difícil até de perceber que eles
ocorrem. Uma forma de propiciar nossa percepção dos mesmos é buscarmos fortalecer
a intuição, criarmos momentos de silenciamento, de introspecção e de meditação;
às vezes, porém, não é necessário nada disso: nós, simplesmente, os sentimos.
Penso
que o avanço da idade nos ajuda a reconhecê-los e a vivenciá-los mais plenamente.
Pelo menos comigo tem sido assim.
Os
mais plenos estados de graça que tenho tido a felicidade de vivenciar
ultimamente têm vindo da minha neta Letícia que, com seus onze meses de idade, fazendo
tudo o que uma criança nessa fase faz – e que a gente, bobamente, acha que é só
aquela criança que amamos é que faz – me
toma por completo.
Cada
vez que a vejo, ganho alguns anos de vida extra.
Quando
canto para ela, embalando-a na rede: Carinhoso, de Pixinguinha:
“Meu
coração, não sei por que, bate feliz quando te vê...”
Ou Ana
e o mar, do Teatro Mágico:
“Ana
e o mar, mar e Ana
Histórias
que nos contam na cama
Antes
da gente dormir...”
Ou Andança,
de Paulinho Tapajós:
“Olha
a lua mansa a se derramar
(me
leva amor)
Ao
luar descansa meu caminhar
(amor)
Seu
olhar em festa se fez feliz...”
Também
quando engatinho com ela. Também quando, no banho, perco a noção do tempo, vendo-a
bater as mãozinhas na água, molhando todo o espaço em volta. E quando faz bico
e quando fala tetetetete, mamamama, e quando abre os braços em minha direção e quando
ri e quando....
As
dores na coluna desaparecem como por encanto. As dívidas evaporam. Todos os
problemas se vão. Pena que voltam, as dores, as dívidas e os problemas, quando ela
se vai.
Ao
longo da vida, outros estados de graça me acompanharam: sempre, ver meus filhos
voltando pra casa me enche de graça, especialmente, quando voltam à noite e
vejo que sobreviveram, mais uma vez, à selva de pedra. Até já escrevi sobre isso
em outro texto.
E em
tantos outros momentos.
Quando
vejo o mar, fico em completo estado de graça.
Quando
faço uma comida que sei que meus amados gostam e os surpreendo, como ao fazer
uma feijoada ou um yakissoba numa segunda ou terça-feira e vê-los chegarem e se
espantarem e aquele espanto ser puro prazer. Mesmo quando, no cardápio do dia a
dia faço um dos seus pratos preferidos: asinha de frango bem frita para o Thiago;
carne assada ou frita para o Lucas; couve refogada para a Larissa. Suas reações
são sempre bênçãos. E eu fico em estado de graça.
Quais
as situações em que vocês ficam em estado de graça? Cultivem-nas. Estimulem-nas
para que ocorram, sempre.
Neste
meu primeiro texto de 2014, desejo a todos os leitores deste blog que vivam
muitos estados de graça, que os reconheçam e que os fruam plenamente.
Um
Fenomenal 2014 a todos.
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