sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Olha o presente que eu ganhei!!!


Sempre que penso nos direitos fundamentais de todos nós, seres humanos, penso além daqueles básicos que estão contemplados em todos os documentos que versam sobre direitos e sobre deveres.
Sempre digo que, se eu ocupasse um cargo que me desse poder, eu tornaria lei, por exemplo, o direito de todos os brasileiros a, pelo menos, uma massagem por semana. As massagens podem salvar vidas: relaxam o corpo e, como consequência, amenizam as dores da alma.
Meu filho mais velho, com sua visão pragmática e seu olhar capitalista, diz que é por isso mesmo que eu nunca vou ocupar qualquer cargo importante, pois isso não é prioridade.

É, acho que ele tem razão. Não há lugar para um governante que veja o mundo e o outro a partir desta perspectiva.

Mas continuo acreditando que, como disse o poeta, a gente não precisa apenas de “comida”; a gente quer e deveria ter, por direito, diversão e arte.

Vivi outro dia uma experiência que me tocou profundamente. Me fez ver que, mesmo reconhecendo certos direitos que não temos tido, há aqueles que se tornaram tão naturais que nem os vemos mais como direitos. Só aqueles que não os têm, os percebem como tal.

Um amigo contava da sua dificuldade de receber presentes e de poder leva-los para casa. Há presentes que contam, por si só, quem os presenteou. Deste modo, um presente denuncia a relação entre as pessoas: a que presenteia e a que recebe o presente.

Ele vive isso por conta da sua opção sexual, por morar com os pais que, ou não sabem, ou não lidam bem com esta situação.

Mesmo contando com humor, em meio a risadas do grupo, não pude evitar de sentir, profundamente, uma certa tristeza que vinha de cada palavra sua.

E ela me doeu na alma.

Eu jamais pensaria que receber um presente e contar ao mundo é um direito e, muito menos, que é um direito violado, um direito que nem todos têm.

Que delícia é contar aos outros do presente que ganhamos. É como se disséssemos: Olha como eu sou amado!!!

Saber de gente que não pode fazer isso me impacta, me magoa, me machuca.

Como mãe, só posso sonhar com um mundo em que nós, pais e mães, desenvolvêssemos uma sensibilidade tão profunda, ao lidarmos com nossos filhos, que as palavras passassem a ser desnecessárias. Que fôssemos capazes de compreender como nossos filhos funcionam no mundo e que tivéssemos uma imensa humanidade que nos ajudasse a ver como eles amam e são amados e aceitássemos, sem menosprezá-los, seu jeito de estar no mundo.

Em outra palavra, sonho com um mundo em que seríamos, todos, compassivos, e não apenas os pais e as mães.

Mas este seria um mundo perfeito. Sei que estou longe de ser essa mãe; sei que estamos, todos, distantes desta humanidade, mas não custa sonhar.

Sonho com a propaganda Outra Maneira - anúncio produzido pelo GLICH – Grupo Liberdade Igualdade e Cidadania Homossexual (Feira de Santana – Bahia) que concorreu ao prêmio Melhores do Ano, em 2006 (e foi a primeira vez que um anúncio sobre sexualidade concorreu) sendo lida, sempre, da segunda forma como foi lida, quando veiculada na mídia televisiva: lida (e vivida) do fim para o começo, com uma voz, de pai ou de mãe, includente, compreensiva, acolhedora e amorosa:

Você tem que mudar

Jamais vou dizer

Isso é normal

Entenda filho

É muita coragem sua

Chegar para mim e falar

Eu sou gay

Precisamos, urgentemente, aprender a ver o mundo de outra maneira, respeitando as diferenças, como sugere o final do anúncio. E nós, que somos pais e mães, precisamos aprender com mais urgência ainda. É pra ontem!!!!

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