Sempre que penso nos direitos fundamentais de todos nós,
seres humanos, penso além daqueles básicos que estão contemplados em todos os
documentos que versam sobre direitos e sobre deveres.
Sempre digo que, se eu ocupasse um cargo que me desse
poder, eu tornaria lei, por exemplo, o direito de todos os brasileiros a, pelo
menos, uma massagem por semana. As massagens podem salvar vidas: relaxam o
corpo e, como consequência, amenizam as dores da alma.
Meu filho mais velho, com sua visão pragmática e seu olhar
capitalista, diz que é por isso mesmo que eu nunca vou ocupar qualquer cargo
importante, pois isso não é prioridade.
É, acho que ele tem razão. Não há lugar para um governante
que veja o mundo e o outro a partir desta perspectiva.
Mas continuo acreditando que, como disse o poeta, a gente
não precisa apenas de “comida”; a gente quer e deveria ter, por direito,
diversão e arte.
Vivi outro dia uma experiência que me tocou profundamente.
Me fez ver que, mesmo reconhecendo certos direitos que não temos tido, há
aqueles que se tornaram tão naturais que nem os vemos mais como direitos. Só
aqueles que não os têm, os percebem como tal.
Um amigo contava da sua dificuldade de receber presentes e
de poder leva-los para casa. Há presentes que contam, por si só, quem os
presenteou. Deste modo, um presente denuncia a relação entre as pessoas: a que
presenteia e a que recebe o presente.
Ele vive isso por conta da sua opção sexual, por morar com
os pais que, ou não sabem, ou não lidam bem com esta situação.
Mesmo contando com humor, em meio a risadas do grupo, não
pude evitar de sentir, profundamente, uma certa tristeza que vinha de cada
palavra sua.
E ela me doeu na alma.
Eu jamais pensaria que receber um presente e contar ao
mundo é um direito e, muito menos, que é um direito violado, um direito que nem
todos têm.
Que delícia é contar aos outros do presente que ganhamos. É
como se disséssemos: Olha como eu sou amado!!!
Saber de gente que não pode fazer isso me impacta, me
magoa, me machuca.
Como mãe, só posso sonhar com um mundo em que nós, pais e
mães, desenvolvêssemos uma sensibilidade tão profunda, ao lidarmos com nossos
filhos, que as palavras passassem a ser desnecessárias. Que fôssemos capazes de
compreender como nossos filhos funcionam no mundo e que tivéssemos uma imensa
humanidade que nos ajudasse a ver como eles amam e são amados e aceitássemos,
sem menosprezá-los, seu jeito de estar no mundo.
Em outra palavra, sonho com um mundo em que seríamos,
todos, compassivos, e não apenas os pais e as mães.
Mas este seria um mundo perfeito. Sei que estou longe de
ser essa mãe; sei que estamos, todos, distantes desta humanidade, mas não custa
sonhar.
Sonho com a propaganda Outra
Maneira - anúncio produzido
pelo GLICH – Grupo Liberdade Igualdade e Cidadania Homossexual (Feira de
Santana – Bahia) que concorreu ao prêmio Melhores do Ano, em 2006 (e foi a
primeira vez que um anúncio sobre sexualidade concorreu) sendo lida, sempre, da
segunda forma como foi lida, quando veiculada na mídia televisiva: lida (e
vivida) do fim para o começo, com uma voz, de pai ou de mãe, includente,
compreensiva, acolhedora e amorosa:
Você tem que mudar
Jamais vou dizer
Isso é normal
Entenda filho
É muita coragem sua
Chegar para mim e falar
Eu sou gay
Precisamos, urgentemente, aprender a ver o mundo de outra
maneira, respeitando as diferenças, como sugere o final do anúncio. E nós, que
somos pais e mães, precisamos aprender com mais urgência ainda. É pra ontem!!!!
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