Entro nela no dia 04 de setembro, 1 mês e 11 dias após o
seu falecimento.
Pensei que seria muito difícil ou que eu não daria conta.
Não foi. Deus, pai de extrema bondade, reveste-me de paz,
de equilíbrio e é com o coração apaziguado que dou o passo atravessando a porta
de entrada.
Vejo o vaso de bambu com girassóis, que dei a ela na
última vez em que nos vimos.
__ Quero girassol na minha sala, minha filha!
Parece que um tsunami passou por ali. Os vazios dos
móveis já doados enchem a casa: o sofá – inicialmente uma bicama – que eu
comprei com meu primeiro salário de Rondônia não está no seu lugar.
O fogão, o forno e as camas se foram.
O lugar onde ficava a mesa antiga, de madeira maciça,
testemunha de uma vida inteira, que abria o tampo, quando a casa estava cheia,
fazendo caber mais pessoas à sua volta, está vazio.
Em um dos dois quartos, apenas os seus santos na parede. No
outro, um guarda roupa antigo que minha irmã pediu que fosse mantido e duas
caixas: uma de madeira e outra comum, de sapatos.
Dentro, o seu legado: cartas, cartões, fotos de filhos,
netos, genros e noras. Um colar, um terço, o caderno do terço da Libertação,
papéis etc.
Vejo também os meus dois livros. Releio a dedicatória que
fiz para ela no Parceiros.
Vejo-a, na varanda da minha casa, lendo e rindo:
__ Neusa, você escreve de um jeito! Parece que eu tô
ouvindo você falando, contando essas histórias.
Opto por não profanar tantas lembranças. Seria muito
fácil cada filho pegar uma foto ou um cartão e levar consigo. Não quero.
O valor daqueles artefatos está no todo, na unidade. Tudo
o que ali está significa junto.
Combino com minha irmã a feitura de um grande álbum: será
o álbum da Umbelina, de todos e de ninguém. Poderá ser levado a todas as casas,
em tempos de recolhimento e de rememoração.
Sei que ela está comigo. Sinto que ela aprova a decisão.
Ela sabe que fui a Lins numa missão, em nome das suas
cinco filhas distantes, prestar-lhe nosso tributo: Lenita, Lurdes, Neusa, Tena
e Má.
Mãe, desejamos que esteja em paz, num lugar iluminado, curando
as feridas do corpo e da alma, acolhida pelo meu pai, Seu João, por vó Mocinha,
sua sogra e comadre, e por vó Maria Emídia, sua mãe.
Acredito que a alma é eterna; então, a sabemos viva e
aguardamos o reencontro, no tempo de Deus.
Realmente emocionante. Sua mãe com certeza teve muito orgulho de você, e onde ela estiver, tenho absoluta certeza que ainda se orgulha muito da filha que tem. Quando li, pude ouvir claramente sua voz, com aquele R retroflexo, ligeiramente com o sotaque de uma paulistana do interior. Parabéns pelo texto. Sinto orgulho de ter sido seu aluno. Carregarei as lembranças de cada aula sua para todo o sempre. Obrigado por tudo e até mais. Continue sendo essa pessoa maravilhosa que você é.
ResponderExcluirLindo Neusa, como sua mãe diz no texto.. parece que estou ouvindo você falar com essa vós doce e encantadora como a pessoa que você é. Sei amada é sentir saudades, mas o melhor é guardar as boas lembranças.
ResponderExcluirGrande bjo te admiro muito MESTRA.
Marli
Professora Neusa me fez chorar outra vez...muito lindo!!! tenho a certeza que sua mãezinha, de onde ela estiver, estará muito feliz pela filha maravilhosa que tem. Me sinto privilegiada por ter primeiro ouvido esse relato e agora me deliciar com a leitura...muito obrigada!
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