quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Envelhecer



   Ando tão assustada com a possibilidade concreta de envelhecer num país que ainda não sabe lidar com os idosos. Vejo tantas cenas de descaso e de abandono que é penoso pensar no que virá.
   Digo, na minha casa, aos meus filhos, a cada vez que saio para as caminhadas, que faço isso por amor a mim, mas também a eles, pois um pai ou uma mãe velhinhos e comprometidos na sua saúde dá muito trabalho. E que sei que, mesmo que eles optem por me abandonar ou me pôr num asilo, mesmo assim, eles irão sofrer, por sentirem culpa. Por isso também me cuido, para garantir a qualidade de vida deles, no futuro.
   Também brinco, às vezes, dizendo a eles que, se a opção for o asilo, tenho esperanças de que minha aposentadoria seja suficiente para me manter, mas que mesmo assim, temo. E peço:
__ De vez em quando, vocês vão lá ver se eu não estou sendo espancada? Eu morro de medo de apanhar!
   Ao que eles retrucam, horrorizados:
__ Ai, mãe, pelo amor de Deus! Nem fala isso!
   Brincadeiras à parte, ou humor negro à parte, gosto sempre de ver velhinhos pelas ruas, assumindo a vida vivida. Acho belo, principalmente quando vejo casais de velhinhos, porque eles me contam que superaram inúmeras dificuldades para permanecerem juntos. De mãos dadas, então, tratando-se amorosamente, é um prazer vê-los.
   Um dia, estávamos na praia também e eu me deparei, no calçadão, com essa cena de que tanto gosto: um casal de velhinhos, limpinhos, bem vestidos, elegantes, com suas mãos enrugadinhas entrelaçadas e caminhando, bem devagar, com a lentidão e a dificuldade característica de corpos que vão falindo com o tempo.
   Não resisti e disse ao Tito:
__ Olha, que lindo!! Sabe que o meu sonho é envelhecer assim?!?
   E ele, que tem um humor sempre presente, me respondeu “na lata”:
__ Ah, é? Desse jeito aí? Encarquilhadinha? Andando assim, curvadinha, devagarinho assim? Ah, tá! Então vai firme! Mas você vai sozinha! Quando você for aquela velhinha, eu vou ser aquele ali, ó.    E apontou um homem, sarado, que passava por nós, correndo, na plenitude do seu corpo jovem.
   Rimos, é claro. De mim, de nós, da vida. E da nossa perplexidade por nos darmos conta de que o porvir é mistério e que não sabemos, nem saberemos, de fato, como será a nossa vida na velhice.   

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