Ando tão
assustada com a possibilidade concreta de envelhecer num país que ainda não
sabe lidar com os idosos. Vejo tantas cenas de descaso e de abandono que é
penoso pensar no que virá.
Digo, na minha
casa, aos meus filhos, a cada vez que saio para as caminhadas, que faço isso
por amor a mim, mas também a eles, pois um pai ou uma mãe velhinhos e
comprometidos na sua saúde dá muito trabalho. E que sei que, mesmo que eles
optem por me abandonar ou me pôr num asilo, mesmo assim, eles irão sofrer, por
sentirem culpa. Por isso também me cuido, para garantir a qualidade de vida
deles, no futuro.
Também brinco,
às vezes, dizendo a eles que, se a opção for o asilo, tenho esperanças de que
minha aposentadoria seja suficiente para me manter, mas que mesmo assim, temo.
E peço:
__ De vez em quando, vocês vão lá ver se eu não estou
sendo espancada? Eu morro de medo de apanhar!
Ao que eles
retrucam, horrorizados:
__ Ai, mãe, pelo amor de Deus! Nem fala isso!
Brincadeiras à
parte, ou humor negro à parte, gosto sempre de ver velhinhos pelas ruas,
assumindo a vida vivida. Acho belo, principalmente quando vejo casais de
velhinhos, porque eles me contam que superaram inúmeras dificuldades para permanecerem
juntos. De mãos dadas, então, tratando-se amorosamente, é um prazer vê-los.
Um dia,
estávamos na praia também e eu me deparei, no calçadão, com essa cena de que
tanto gosto: um casal de velhinhos, limpinhos, bem vestidos, elegantes, com
suas mãos enrugadinhas entrelaçadas e caminhando, bem devagar, com a lentidão e
a dificuldade característica de corpos que vão falindo com o tempo.
Não resisti e
disse ao Tito:
__ Olha, que lindo!! Sabe que o meu sonho é envelhecer
assim?!?
E ele, que tem um
humor sempre presente, me respondeu “na lata”:
__ Ah, é? Desse jeito aí? Encarquilhadinha? Andando assim, curvadinha,
devagarinho assim? Ah, tá! Então vai firme! Mas você vai sozinha! Quando você
for aquela velhinha, eu vou ser aquele ali, ó. E apontou um homem, sarado, que passava por
nós, correndo, na plenitude do seu corpo jovem.
Rimos, é claro.
De mim, de nós, da vida. E da nossa perplexidade por nos darmos conta de que o
porvir é mistério e que não sabemos, nem saberemos, de fato, como será a nossa
vida na velhice.
"Envelheser"... :)
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