É próprio da nossa
imperfeição e da nossa incompletude querermos que as pessoas que amamos sigam
nossas orientações, façam aquilo que NÓS acreditamos ser o melhor para elas.
Se os seres imperfeitos são os pais e as
pessoas amadas, os filhos, essa relação fica mais desigual ainda e a cobrança
se reveste de um poder maior; passamos, os pais, a agir como feitores.
No meu caso, o fato de ter vivenciado
situações de extrema privação na infância me fez desejar que meus filhos nunca
experienciassem minhas dores e meus sofrimentos e isso implicou sempre, é
claro, a minha defesa de que eles optassem por profissões que – imaginava eu –
garantir-lhes-iam uma qualidade de vida melhor que a que eu tive.
Então, no período de escolha da profissão e
mesmo durante o percurso dos meus filhos na faculdade, meu medo de que eles
passassem fome me cegou e eu sofri pelo
que eu julguei serem escolhas equivocadas. Doeu muito quando os vi optando por
profissões que, historicamente, têm sido mal remuneradas.
O problema é que, no afã de vê-los longe das
possíveis agruras dos baixos salários, nem me apercebi ocupando o lugar que eu
tanto questiono como “mãe moderna”, lugar de quem oprime, impede, aprisiona.
É tudo tão claro e tão lógico – a lógica do
mercado – que equivocados são eles por não se subordinarem, por não se
moldarem, assim pensamos e debatemos.
A contradição reside no fato de que também os
criamos para serem independentes e livres, acreditando no que nos disse Khalil
Gibran - que nossos filhos são a flecha, que nós somos o arco e que nossa
missão é alçá-los o mais longe possível - , mas não os deixamos escolher o
próprio caminho e, quando deixamos ou nos resignamos porque não tem jeito mesmo
e eles não vão nos atender, fazemos cobranças, duras ou sutis, que os magoam de
qualquer modo.
O livro Antes de partir, de Bronnie Ware, no
qual a autora reflete sobre os cinco principais arrependimentos de pessoas que
estão bem próximas da morte, me ensinou o que o meu coração, lá no fundo, já
sabia, ao ler o lamento número um – Desejaria ter tido coragem de viver uma
vida verdadeira para mim mesma, não a vida que os outros esperavam de mim – me
fez ver o quanto meus filhos são corajosos por lutar pelos seus sonhos, mesmo me
contrariando e apesar do meu amor.
Que bom constatar que eles não precisaram
viver uma vida inteira para perceber que viveram a vida que os outros queriam
que eles vivessem; que bom que tiveram forças para escapar da cilada. Que
orgulho e que alívio sinto por terem me dito NÃO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário