quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Cabelos brancos



   Estou naquele período em que os cabelos embranquecem a olhos vistos e dá um trabalho danado. É preciso pintar ou tonalizar, no máximo, a cada quinze dias; do contrário, lá estão eles, bem visíveis. No meu caso, tenho uma mecha grande bem no alto da testa. É a primeira que se mostra.
   O problema é que há tanto a fazer na vida que penso que pará-la para retocar a raiz tão constantemente é jogar um pouco da vida fora, por nada. Afinal, o tempo passou. A quem, nós mulheres, estamos enganando, ao pintarmos nossos cabelos.
   Sei do machismo que impera nesse universo, porque homem de cabelo branco é charmoso, enquanto mulher de cabelo branco é relaxada. Impossível não lembrar de outros pares: homem de barriguinha saliente é charmoso, enquanto mulher de barriguinha.... Homem, quando falta ao trabalho para levar o filho ao médico, ouve:
__ Que pai amoroso! E, em oposição, a mulher:
__ Ela mistura as estações. Não se organiza. Não sabe separar trabalho de vida pessoal.
   É fogo!
   Voltemos aos cabelos brancos. O fato é que venho desenvolvendo uma campanha para assumir, de vez, meus cabelos brancos. E a batalha começa dentro de casa:
__ De jeito nenhum que eu vou deixar, mãe. Mulher de cabelo branco é horrível!
   O outro:
__ É por causa do preço da tinta? Se for, eu compro pra você. Essa tem resposta:
__ Meu filho, se eu, depois de trabalhar uma vida inteira, não tivesse dinheiro pra comprar uma bisnaga de tinta pra cabelo, eu poderia me matar. Não é isso! É o trabalho que dá!
   Outras batalhas,fora de casa. Recentemente, viajei a trabalho, para Brasília e, na correria dos dias que antecederam a viagem, não pude parar a vida de novo para a tal pintura. Pensei, então, que seria uma boa oportunidade de testar os brancos fora de casa. E embarquei, sem pintar os cabelos.
   Como era um encontro relativo à educação, é claro que meus pares eram, na imensa maioria, mulheres.
   Desde os primeiros eventos, notei que a raiz branca era a primeira a ser vista, a ser olhada, só depois vinha eu. As pessoas olhavam primeiro a raiz, depois me olhavam e me viam.
   Parecia uma entidade. O branco deixou de ser adjetivo e passou a ser substativo. Virou sujeito, com vida própria.
   Algumas mulheres se constrangiam e disfarçavam o constrangimento. Outras, o demonstravam, claramente, com cochichos, com testas franzidas etc.
   Mantive-me firme, na participação das atividades.
   Já na etapa final do encontro, à mesa do café da manhã, sentei-me com professoras que conversavam sobre a nossa sobrecarga de trabalho, como mulheres, em casa e fora dela, e do quanto era aflitivo tentar dar conta de tudo, sem êxito.
   Num dado momento, uma moça muito elegante, sem me olhar, como se falasse de modo geral e não sobre mim especificamente, soltou essa:
__ Gente, tá tão difícil que, às vezes, a gente nem dá conta de pintar o cabelo antes de vir para um evento!
   Ri um pouquinho por dentro, mas continuei participando da conversa como se nada tivesse acontecido e como se meus cabelos estivessem como manda o figurino e saí de lá certa de que há um preço a pagar para vivermos a vida verdadeira da qual falei num dos textos anteriores.
   Mas continuo firme na intenção de ser uma senhora de cabelos brancos. Quem sabe, depois da aposentadoria?

2 comentários:

  1. Meu filho João Pedro, surpreendentemente, sugere para eu não "pintar", deixar os fiozinhos brancos "porque é bonito".
    Disse que quando crescer vai deixar os cabelos como os do padrasto, que é grisalho: "Vou ser um velhinho estiloso".
    Estou pensando se adoto o tal estilo.
    Beijo.
    (Obrigada pelo texto. Adoro!)

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  2. rsrsrss Lembrei-me de mamis, toda felizinha qdo percebeu seu primeiro fio de cabelo branco. O único que surgiu,até agora, o qual elam cultiva toda orgulhosa. E ai de que ousar sugerir arrancá-lo. rsrs
    Bjo, Neusa!

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