Estou naquele
período em que os cabelos embranquecem a olhos vistos e dá um trabalho danado.
É preciso pintar ou tonalizar, no máximo, a cada quinze dias; do contrário, lá
estão eles, bem visíveis. No meu caso, tenho uma mecha grande bem no alto da
testa. É a primeira que se mostra.
O problema é que
há tanto a fazer na vida que penso que pará-la para retocar a raiz tão
constantemente é jogar um pouco da vida fora, por nada. Afinal, o tempo passou.
A quem, nós mulheres, estamos enganando, ao pintarmos nossos cabelos.
Sei do machismo
que impera nesse universo, porque homem de cabelo branco é charmoso, enquanto
mulher de cabelo branco é relaxada. Impossível não lembrar de outros pares:
homem de barriguinha saliente é charmoso, enquanto mulher de barriguinha....
Homem, quando falta ao trabalho para levar o filho ao médico, ouve:
__ Que pai amoroso! E, em oposição, a mulher:
__ Ela mistura as estações. Não se organiza. Não sabe
separar trabalho de vida pessoal.
É fogo!
Voltemos aos
cabelos brancos. O fato é que venho desenvolvendo uma campanha para assumir, de
vez, meus cabelos brancos. E a batalha começa dentro de casa:
__ De jeito nenhum que eu vou deixar, mãe. Mulher de
cabelo branco é horrível!
O outro:
__ É por causa do preço da tinta? Se for, eu compro pra
você. Essa tem resposta:
__ Meu filho, se eu, depois de trabalhar uma vida
inteira, não tivesse dinheiro pra comprar uma bisnaga de tinta pra cabelo, eu
poderia me matar. Não é isso! É o trabalho que dá!
Outras
batalhas,fora de casa. Recentemente, viajei a trabalho, para Brasília e, na
correria dos dias que antecederam a viagem, não pude parar a vida de novo para
a tal pintura. Pensei, então, que seria uma boa oportunidade de testar os
brancos fora de casa. E embarquei, sem pintar os cabelos.
Como era um
encontro relativo à educação, é claro que meus pares eram, na imensa maioria,
mulheres.
Desde os
primeiros eventos, notei que a raiz branca era a primeira a ser vista, a ser olhada,
só depois vinha eu. As pessoas olhavam primeiro a raiz, depois me olhavam e me
viam.
Parecia uma
entidade. O branco deixou de ser adjetivo e passou a ser substativo. Virou
sujeito, com vida própria.
Algumas mulheres
se constrangiam e disfarçavam o constrangimento. Outras, o demonstravam,
claramente, com cochichos, com testas franzidas etc.
Mantive-me
firme, na participação das atividades.
Já na etapa final
do encontro, à mesa do café da manhã, sentei-me com professoras que conversavam
sobre a nossa sobrecarga de trabalho, como mulheres, em casa e fora dela, e do
quanto era aflitivo tentar dar conta de tudo, sem êxito.
Num dado
momento, uma moça muito elegante, sem me olhar, como se falasse de modo geral e
não sobre mim especificamente, soltou essa:
__ Gente, tá tão difícil que, às vezes, a gente nem dá
conta de pintar o cabelo antes de vir para um evento!
Ri um pouquinho
por dentro, mas continuei participando da conversa como se nada tivesse
acontecido e como se meus cabelos estivessem como manda o figurino e saí de lá
certa de que há um preço a pagar para vivermos a vida verdadeira da qual falei
num dos textos anteriores.
Mas continuo
firme na intenção de ser uma senhora de cabelos brancos. Quem sabe, depois da
aposentadoria?
Meu filho João Pedro, surpreendentemente, sugere para eu não "pintar", deixar os fiozinhos brancos "porque é bonito".
ResponderExcluirDisse que quando crescer vai deixar os cabelos como os do padrasto, que é grisalho: "Vou ser um velhinho estiloso".
Estou pensando se adoto o tal estilo.
Beijo.
(Obrigada pelo texto. Adoro!)
rsrsrss Lembrei-me de mamis, toda felizinha qdo percebeu seu primeiro fio de cabelo branco. O único que surgiu,até agora, o qual elam cultiva toda orgulhosa. E ai de que ousar sugerir arrancá-lo. rsrs
ResponderExcluirBjo, Neusa!