terça-feira, 9 de novembro de 2021

O abraço nos tempos do Covid


Há teorias exaltando o poder do abraço. Há grupos que se reúnem para distribuir e receber abraços. Há pessoas pelas ruas ofertando abraços gratuitos. Ou melhor: havia, antes da pandemia. Há cursos sobre o abraço. Lembro-me de um, na Universidade Federal de Rondônia, oferecido por alunos de uma turma de Pedagogia. Eles falavam sobre a importância do abraço, classificavam e nomeavam os vários tipos de abraço. E,  claro, encerravam o breve encontro com todos se abraçando. Lembro- me de um deles: o abraço expectorante - é quando os "abraçantes" batem com força um nas costas do outro, praticamente esmurrando-se mutuamente. De outro: os corpos formam um A, porque as cinturas se distanciam, evidenciando pouca intimidade ou significando, apenas, civilidade cordial.
Em um curto período em que fiz Ioga, aprendi o delicioso abraço em X, em que alternamos os braços por baixo das axilas e por cima dos ombros da pessoa abraçada, fazendo, assim, com que os corações toquem os corpos um do outro. Delícia de abraço, ainda mais quando termina com beijos nas bochechas. Lembro-me da música que cantávamos na "sessão do abraço": "Todo aquele que eu toco, bendito será. Todo aquele que eu toco, bendito será. Minhas mãos estão cheias das graças de Deus".
Quando eu viajava para passar longos períodos longe dos meus amados, eu pedia ao Tito: Abrace os meus filhos! Não pedia que os alimentasse, que os protegesse. Pedia que lhes desse abraços. Abraço é vida!
Li no livro "Canja de galinha para a alma: Histórias para aquecer o coração": Abraçar é sinal de saúde. Ajuda o sistema imunológico,  auxilia na melhora do quadro de depressão, reduz o estresse e ajuda a dormir.  É completamente natural. Além disso, sua doçura é orgânica,  contém zero ingredientes artificiais,  não polui o meio ambiente e, portanto, é ecologicamente responsável, além de 100% integral. Um abraço é o presente ideal. Perfeito para qualquer ocasião, divertido de dar e receber, demonstra consideração com o outro, já vem embalado e é, logicamente, totalmente retornável. Abraçar é praticamente perfeito. A bateria não acaba nem oxida, não engorda, não exige pagar mensalidade,  é antifurto e sem taxas inclusas (...)"
O abraço é tudo isso. Mas, e agora? O que fazer com a nossa inanição de abraços, em tempos de Covid?
Descobri outro dia que somos capazes de reinventar o abraço. Graças! Descobri que eu continuo abraçando os meus, de outros jeitos.
Eu agora abraço meu filho mais velho "de barriga": me abaixo e envolvo sua circunferência com meus braços e dou beijinhos na sua barriga. Minha neta tem ganhado abraços de cabeça: eu a envolvo do alto e beijo seus cabelos. Também tenho abraçado meus outros filhos lateralmente, evitando o encontro dos rostos: nesse tipo de abraço, a gente acaba beijando o pescoço, já perto da nuca.
É.  Há saídas. O Covid tem espalhado dor e perdas. Tem nos tirado as esperanças em alguns momentos.  Mas sempre é possível achar um jeitinho de demonstrar nosso afeto. São abraços estranhos, é certo. Exóticos,  diriam outros. Mas nos possibilitam tocar quem amamos,  um contato tão essencial em dias tão áridos.
Até que chegue o dia em que poderemos dar afetivos abraços de urso!

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